Passei a ter outros olhos para a questão da vastidão cósmica, e portanto do nosso nada, ou pouco mais que nada, como quer uma amiga, depois de assistir a uma conferência do físico Luiz Alberto Oliveira, de longe a conferência mais interessante a que já assisti. O que ele disse de especial? Tudo que alguém precisa saber para saber que é ninguém, ou melhor, que ninguém é melhor (ou pior) que ninguém. Encerrou com um texto de Jorge Luis Borges. Numa entrevista, à pergunta sobre como dialogam as ciências humanas, a biologia e a física na atualidade, respondeu que como viajantes noturnos no deserto, que passam bem ao lado um do outro sem se encontrar, o que só pode dar Borges, como quis Umberto Eco para O nome da rosa (assim as dívidas se pagam). Borges e seus desertos labirínticos, ou labirintos desérticos. Aqui a súmula da conferência.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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