Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 30 de maio de 2010

que país é este?

"Que país é esse?" - Francelino Pereira, deputado federal e presidente da extinta Arena, em 1976. A frase, curiosamente, tornou-se slogan da oposição e foi reposta em circulação pela célebre canção de Renato Russo. O ilustre deputado a teria dito num contexto bem banal, diante de um elevador emperrado que demorava a chegar.


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― Professor Sérgio Buarque de Holanda, que país é este?
― É um país que pode se dar ao luxo, em pleno século XX, de restaurar o absolutismo, as capitanias, a inquisição e o banimento político dos cidadãos. Antes dessa revolução, que se diz redentora, houve outra redentora, que não baniu ninguém. Ela mesma acabou banida, chamava-se Princesa Isabel. (Entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, em 30 de abril de 1978. Fonte: Sérgio Buarque de Holanda: Encontros. Org. Renato Martins. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009, p.138.)