Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

a obra de arte no corredor

Minha resistência a exposições, em especial as de grande apelo, como esta, é que elas são tratadas como arte, causam filas e frisson, mas na verdade funcionam como cultura. O que há contra a cultura? Nada — desde que não assuma o disfarce de arte.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

letargia

Minha miopia tem me feito enxergar tudo meio lento — os Correios, o retorno das ligações dadas, a internet, as operações básicas da vida. A paciência precisa ser de Jó, mas a ansiedade é moderna, contemporânea, não é fenômeno que se possa aferir com parâmetros bíblicos. Leio sobre meditação e técnicas de respiração, mas é preciso pagar para se iniciar nesses saberes milenares — quem sabe os mesmos que permitiram a Jó esperar tanto —, além de sair de casa, fazer contatos, mandar e-mails, dar telefonemas, encontrar espaço na agenda, coisas que via de regra mais chateiam que acalmam. Tento imaginar o mundo em que essas técnicas de desacelaração foram criadas, forjadas, elaboradas. Não consigo. Enquanto isso o país parece estar caminhando para um nó, cujo desfecho vai ser certamente desagradável.