Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Dora Ferreira da Silva

A VIDA

Árvore que consome o tronco
nos galhos
nas dissipadas folhas
floração. Frutos.
Livre de seu penoso
e jubiloso trânsito por este mundo

erguei voo — pássaro — cujo nome
só a boca dos arcanjos pode pronunciar
erguei voo
leve de todo lastro
livre de todo apego:
notas musicais libertas do instrumento
pousada em paz
após laboriosa partitura
que também jaz
completa.

Dora Ferreira da Silva. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p.271.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

reflexão a caminho do trabalho

— Deus?...
— No céu, apenas nuvens... (o efêmero, o transitório, o informe, a presença ausente).