Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Walt Whitman — "but offer the value itself"

Não trago grana ou amores ou roupa ou comida .... mas é bom também ;
Não envio nenhum agente ou médium .... não ofereço nenhum representante  de valor — mas ofereço o valor em si.

WHITMAN, Walt. Folhas de relva. Trad. Rodrigo Garcia Lopes. São Paulo: Iluminuras, 2008, p. 137. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Paulo Henriques Britto

BIODIVERSIDADE

Há maneiras mais fáceis de se expor ao ridículo, 
que não requerem prática, oficina, suor. 
Maneiras mais simpáticas de pagar mico 
e dizer olha eu aqui, sou único, me amem por favor. 

Porém há quem se preste a esse papel esdrúxulo, 
como há quem não se vexe de ler e decifrar 
essas palavras bestas estrebuchando inúteis, 
cágados com as quatro patas viradas pro ar. 

Então essa fala esquisita, aparentemente anárquica, 
de repente é mais que isso, é uma voz, talvez, 
do outro lado da linha formigando de estática, 
dizendo algo mais que testando, testando, um dois três, 

câmbio? Quem sabe esses cascos invertidos, 
incapazes de reassumir a posição natural, 
não são na verdade uma outra forma de vida, 
tipo um ramo alternativo do reino animal?

Paulo Henriques Britto. Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 9.

um rabisco no papel

Bem disse quem disse que são as palavras que suportam o mundo, não os ombros. Mesmo os ombros mais fortes recorreram à poesia.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

o tecido delicado da vida

É tudo muito delicado, tão delicado que eu sinto, às vezes, uma imensa responsabilidade em viver, falar, estar em relação com o outro. Digo “eu” sabendo dos limites necessários do “eu”, limites que preservariam o que é delicado.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Edifício Master (2002) - Eduardo Coutinho

futebol brasileiro

Ia falar da última rodada do campeonato brasileiro, a propósito de uma cena vista ontem no documentário “Edifício Master”, quando a internet traz a notícia – e as imagens – de uma briga tribal entre torcedores de dois dos times que estão duelando, conforme linguagem empregada pela própria mídia para caracterizar os embates da última rodada. Tratava-se, inicialmente, voltando ao documentário de Eduardo Coutinho, da fala do ex-jogador e ex-treinador Paulo Mata, que quando técnico do Itaperuna entrou nu em campo em protesto contra o resultado na partida contra o Vasco. Paulo Mata, perguntado sobre o motivo de seu protesto, disse ao diretor-entrevistador: “o futebol brasileiro...

walt whitman: a saudável anarquia da poesia

.... Um grito no meio da multidão,
Minha própria voz, redonda e arrebatadora e definitiva.

WHITMAN, Walt. Folhas de relva. Trad. Rodrigo Garcia Lopes. São Paulo: Iluminuras, 2008, p. 111.