BIODIVERSIDADE
Há maneiras mais fáceis de se expor
ao ridículo, 
que não requerem prática, oficina, suor. 
Maneiras mais simpáticas de pagar mico 
e dizer olha eu aqui, sou único, me amem por
favor. 
Porém há quem se preste a esse papel
esdrúxulo, 
como há quem não se vexe de ler e decifrar 
essas palavras bestas estrebuchando inúteis, 
cágados com as quatro patas viradas pro ar. 
Então essa fala esquisita, aparentemente
anárquica, 
de repente é mais que isso, é uma voz, talvez, 
do outro lado da linha formigando de estática, 
dizendo algo mais que testando, testando, um dois
três, 
câmbio? Quem sabe esses cascos
invertidos, 
incapazes de reassumir a posição natural, 
não são na verdade uma outra forma de vida, 
tipo um ramo alternativo do reino animal?
Paulo
Henriques Britto. Macau. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 9.