CARTÃO DE
NATAL
Pois que
reinaugurando essa criança 
pensam os
homens 
reinaugurar
a sua vida
e começar
novo caderno, 
fresco
como o pão do dia; 
pois que
nestes dias a aventura 
parece em
ponto de voo, e parece 
que vão
enfim poder 
explodir
suas sementes: 
que desta
vez não perca esse caderno 
sua
atração núbil para o dente; 
que o
entusiasmo conserve vivas 
suas
molas, 
e possa
enfim o ferro 
comer a
ferrugem, 
o sim
comer o não.
(1952)
João Cabral de MELO NETO.  Museu de tudo. Rio de Janeiro: Objetiva,
2009, p.138. 
 
