Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 22 de agosto de 2015

Cecília Meireles: "De que alma é que vai ser feita / essa humanidade nova?"

Ambição gera injustiça.
Injustiça, covardia.
Dos heróis martirizados
nunca se esquece a agonia.
Por horror ao sofrimento,
ao valor se renuncia.

E, à sombra de exemplos graves,
nascem gerações opressas.
Quem se mata em sonho, esforço,
mistérios, vigílias, pressas?
Quem confia nos amigos?
Quem acredita em promessas?

Que tempos medonhos chegam,
depois de tão dura prova?
Quem vai saber, no futuro
o que se aprova ou reprova?
De que alma é que vai ser feita
essa humanidade nova?

Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. 9.ed. São Paulo: Global, 2012, p.164. Trecho do “Romance LIX ou Da reflexão dos justos”.

"A democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido." (Sérgio Buarque de Holanda, 1936)

“Mas no caso de um eventual impeachment, também haverá quem vai prestar mais atenção ao fato de que, dos quatro presidentes que o Brasil teve após a retomada da democracia, dois não terminaram seus mandatos.” 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Orides Fontela

ADVENTO

Deste templo múltiplo
o que nascerá?

Da onda
rítmica
amplitude
da intensidade
amorfa
ritmicamente esfacelada

do múltiplo que um
mais que tempo virá
e que luz haverá além
do tempo?

FONTELA, Orides. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify: Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006, p.66.

renato russo não morreu

quem o colocou lá?

De mais de um interlocutor, ouvi que Cunha é um mal necessário. Ai de nós, a precisarmos de males dessa envergadura.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

antes tarde

A queda de Cunha era questão de tempo. Figuras como ele são eficientes para agir nas sombras, não na linha de frente. Ainda mais com a megalomania que sempre o acompanhou, acima de qualquer limite de prudência. Em ambiente democrático, não há espaço para os superpoderosos. Tanto assim, que um dos truques históricos da mídia, quando quer marcar um inimigo, é superestimar seus poderes. O sujeito entra na marca de tiro, torna-se alvo não só de jornais como de outros poderes.”