Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 10 de novembro de 2012

lembrando um poema de bertold brecht

Lutar, lutar, lutar ― como uma coisa imperiosa, absoluta, que se impõe.
canção de Silvio Rodriguez

outra lembrança da infância é a gripe geni

histórias para não dormir

Pensando bem, nem é estranho que a literatura (vale dizer, o que se encontra pressuposto neste termo) tenha se tornado um destino para mim: na infância, o conto da carochinha que me foi contado foram histórias de assombração de variado calibre ― o espírito da mata que assustava caçadores noturnos; o caixão que pesava sobre um carro passando, à noite, diante de um cemitério à beira da estrada; o diabo que veio pessoalmente dar uma surra, com suas poderosas línguas de fogo, num homem que havia duvidado de sua existência; mortos que apareciam a seus parentes... Fora a história da “fera da Penha”. 

tom jobim, imprescindível

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Alberto Caeiro

Duas horas e meia da madrugada. Acordo e adormeço.
Houve em mim um momento de vida diferente entre sono e sono.

Se ninguém condecora o sol por dar luz,
Para que condecoram quem é herói?

Durmo com a mesma razão com que acordo
E é no intervalo que existo.

Nesse momento, em que acordei, dei por todo o mundo ―
Uma grande noite incluindo tudo
Só para fora.

Poesia completa de Alberto Caeiro. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005, p.139.