Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 5 de maio de 2013

farmácia e arte

Um programa casual assistido no canal 113 falava da arte moderna na Galeria Tate. Uma das instalações, Pharmacy, aparentemente sem muito sentido ou graça, teve sua proposta sumariada por seu criador, cuja fala lançou um interessante paralelo: as pessoas acreditam nos remédios vendidos em frascos na farmácia, mas tendem a não acreditar na arte. Seria interessante inverter essa relação — propôs ele: acreditar mais na arte e menos nos remédios.

Emily Dickinson (fé e ciência)

A Certeza Química
Que Nada se perde
Encoraja no Desastre
Minha instável Fé –

As Faces dos Átomos
Se eu irei fitá-las
Quanto mais os Seres Findos
Que já estão lá!


The Chemical conviction
That Nought be lost
Enable in Disaster
My fractured Trust

The Faces of the Atoms
If I shall see
How more the Finished Creatures
Departed me!

DICKINSON, Emily. Alguns poemas. Trad. José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2008, p.74-75.