Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 10 de março de 2010

um trecho de Clarice Lispector

"[...] eu  é apenas uma das palavras que se desenha enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de encontrar forma mais adequada." (A descoberta do mundo: crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 210).

terça-feira, 9 de março de 2010

fuso horário

Descobri nas configurações o que estava criando um descompasso entre minhas postagens e o horário em que eram registradas: a coisa aqui estava calibrada para o "fuso horário do Pacífico"..., o que, note-se, não é de todo mal, afinal o nome "pacífico" sugere-me coisas que há muito venho buscando, e a própria imagem do "Oceano Pacífico" é bastante excitante para a imaginação - todo um oceano de palavras e ideias a meu dispor, que eu posso pacificamente (mas nem sempre, em virtude de eventuais tempestades e outros fenômenos da natureza que volta e meia, e cada vez mais frequentemente, a televisão vem noticiando por lá) ordenar, organizar, desorganizar, rearranjar, linkar, ligar, desligar, submeter, transtornar, criar, delinear... Bem, descoberto o lapso (meu, evidentemente, fruto de uma distração "cada vez mais" assídua), calibrei para São Paulo, e já percebi que todos os horários foram acertados. Mas me ocorre de repente: será que o trânsito e o caos de sumpaulo vão emperrar as ideias por aqui? E será que essa obssessão pelo horário real teria algum fundamento? Mudei de ideia, acabo de voltar para o Pacífico e sua vastidão encantadora. Mesmo porque isso acrescenta um quê de mistério a tudo.

Por-do-sol sobre o Oceano Pacífico

domingo, 7 de março de 2010

Emily Dickinson

Não sou ninguém! Quem é você? 
Ninguém - Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!

DICKINSON, Emily. Não sou ninguém: poemas. Trad. Augusto de Campos. Campinas: Ed. da Unicamp, 2008, p. 41.