Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Fernando Pessoa

Quantas verdades achei!
E eram todas desiguais.
Quantas coisas encontrei
Que nunca mais acharei
A não ser no nunca mais!

Palavras? Não, não saber
Como é que pensar se diz
Ou como sentir tem ser
Quem saiba o que não souber ―
Esse, sim, será feliz.

Fernando Pessoa. Poesia: 1931-1935. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.276.

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