Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 29 de março de 2013

se?

É muito difícil limitar o espectro de ação do outro sobre o que se configura como “eu”, como subjetividade ― sobre nós, na falta de pronome mais adequado. Mas é preciso. Porque senão a sensação de desencontro, de descompasso, fará mais companhia que o próprio outro, e então vai ser mesmo difícil saber quem se poderia ter sido, o que poderia ter acontecido, porque o “se” ficará a perturbar: e se... Algumas situações valem como aprendizado, mas outras parecem valer mesmo apenas como incômodo. Sei que essas divagações correm o grande risco do equívoco, mas são nestas palavras ―  dentro de uma necessidade de escrita ― que o “se” encontra hoje, para mim, formulação. É claro que mesmo o passo equivocado é necessário, e que não há “se”.

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