Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

memória

Há um conto de Caio Fernando Abreu intitulado “Pela passagem de uma grande dor”. Pressuposto: a dor, mesmo grande, passa. Quando passa, costuma deixar cicatrizes, que são marcas da ferida que se fechou. Minha indagação é: conviver com as cicatrizes deixa a dor, que um dia foram, no passado? Não. Olhar as cicatrizes não deixa esquecer a dor. A dor, cicatrizada, não é mais dor. Mas a cicatriz é a memória da dor.

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