Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

GPS

No dia 11 de setembro de 2001, eu me encontrava trabalhando na Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, já então mais como "Assessora de Assuntos Aleatórios" do que na função inicial mediante a qual havia ingressado por concurso. E sabia que aquilo seria passageiro. Bem, estávamos todos nos preparando para sair em uma visita de campo, e alguém sinalizou, por volta das 10 da manhã, que tinha alguma coisa estranha acontecendo, a televisão estava passando umas imagens esquisitas. Sei lá, não sou muito de televisão, olhei aquilo rápido, e imediatamente o grupo saiu para o campo. No local, na condição de AAA, foi-me confiada a  guarda do GPS, do qual de repente me distraí. Menos de cinco minutos dentro do carro para voltar, e o Secretário pergunta pelo GPS. Eu: "não sei; ah, sim, acho que coloquei em cima do carro". "Menina, você não tem mesmo juízo...". E todo mundo kakakakakakakaka, eu mais que todos. Tratava-se de um aparelho caro, não dava para perder assim. Parou-se imediatamente o carro, e por milagre o GPS lá estava, quietinho. Eu ainda ri muito, e acho que estou rindo disso até hoje. Bem, naquele dia trágico, da queda das torres gêmeas, o mundo ficou assim um pouco sem seu GPS, e muitas vidas se perderam por isso, no atentado e posteriormente, em virtude dos seus desdobramentos, pagando caríssimo por algo de que eram inocentes. Perder um aparelho de GPS é infinitamente menos sem importância do que perder o que um GPS, metaforicamente, pode dar. Felizmente, desde então, meu GPS tem funcionado bem, obrigada, algumas turbulências de quando em vez. Já o do mundo, lamentavelmente, não dá pra saber sequer se foi encontrado, ou se algum dia de fato funcionou.

Constelação de satélites GPS  - http://www.fc.up.pt/lic_eg/

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