Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 3 de abril de 2010

"Lá, nas campinas" - trecho de um conto de Guimarães Rosa

"Tudo era esquecimento, menos o coração. — 'Lá, nas campinas!...' — um morro de todo limite. O sol da manhã sendo o mesmo da tarde. / Então, ao narrador foge o fio. Toda estória pode resumir-se nisto: — Era uma vez uma vez, e nessa vez um homem. Súbito, sem sofrer, diz, afirma: — 'Lá...' Mas não acho as palavras." 


ROSA, João Guimarães. Tutaméia: terceiras estórias. Ficção completa, v. II. Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1995, p. 607.

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