Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

a terceira margem do rio

Foi um professor de literatura, nos idos da ufes, que chamou a atenção para a ambiguidade do final do conto "A terceira margem do rio", de Guimarães Rosa: na semântica do enunciado, caberia tanto o substantivo "rio" quando a conjugação em primeira pessoa do verbo "rir", a que minhas circunstâncias particulares permitem acrescentar um terceiro sentido, ou uma terceira margem - Rio: "e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio." (Rosa, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 37).

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