Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 14 de agosto de 2010

Tomo a liberdade de reproduzir aqui um poema de uma internauta amiga que me encantou, cujo blog constitui um atrativo à parte - Barbaridades (link aqui). O poema se intitula "Tagarelaço", e traduz com adorável (im)precisão o titubeio entre dizer e não dizer. Amei. Parabéns, Bárbara!  

Tagarelaço

Se eu desdigo o que eu disse, já não digo.
Se eu redigo o que eu disse, digo e repito.
Completo meu disse-desdisse com um dizer que desde já será desdito:
De que vale o dizer arrependido se o silêncio medroso é recolhido e se torna
um deixar de dizer maldito?
Digo, sempre direi.

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