Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

uma pergunta

Mas será que as pessoas, essas mesmas que se aboletam nos shoppings ou nas filas de consumo, já se fizeram a pergunta: o que estou fazendo (ou deixando que façam) com meu corpo? Antes de saber o que era corpo eu já intuía que me faria muitas vezes essa pergunta. E quando me distraí dela a vida pareceu tomar o aspecto de um grande erro, erro no sentido mais nocivo do termo. Nada contra os erros, é com eles que se aprende ― diz-se amiúde. Mas alguns erros parecem padecer de uma estranha exterioridade, resistindo a serem assimilados pelo ego que perdoa. Nesses erros que gritam o corpo está falando, pedindo para ser ouvido. Não importa a escolha que se faça, cedo ou tarde ela chegará ao corpo. Este corpo que escreve, respira, faz compras, ama, odeia, vai à praia, cria. A única fortaleza que se possui.

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