Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 7 de outubro de 2012

Miguel Marvilla

ESTE SER DA MINHA SOMBRA

Ruge o ser da minha sombra, quieta e indelével,
que se postou em mim, e eis que urge
amá-lo ou amordaçá-lo.

E eis que geme e grita e se debate.

Eu, por mim, me apavoro em que possam ouvi-lo
e em que lhe deem tato,
a este ser que me delata.

Miguel Marvilla. Lição de labirinto. Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1989, p.54.

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