Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

...que seria do amarelo?

Sou essencialmente melancólica — a vida me parece quase sempre um circo trágico. Ao mesmo tempo, coexistindo com isso, tenho um senso de humor constante, que me faz rir do que em princípio poderia parecer sem graça. Exemplo? Certas passagens de Machado de Assis, como esta, de “O alienista”: “Verdade é que, se todos os gostos fossem iguais, o que seria do amarelo?” Machado está falando de uma coisa séria, e de repente introduz uma comparação que quebra a seriedade do tema e confirma a falta de sentido da ciência do alienista, comparação que é, também, muito próxima do senso comum. Deve ser isso que faz rir, produz a comicidade. E também imaginar o próprio Machado escrevendo isso, pilheriando com o leitor.

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