Gosto muito quando, num filme, o personagem tem
alguma espécie de trégua e fica a contemplar a chuva escorrendo pelos vidros da
janela. A cena se converte no mesmo instante em objeto de desejo para mim:
quero aquele lugar subjetivo. O problema é que, a chuva vindo, não traz consigo
a tranquilidade, ainda que fictícia. Mas eu a prefiro à cena do filme.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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