Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Graciliano Ramos: "não há talento que resista à ignorância da língua..."

Trecho da entrevista concedida por Graciliano Ramos a Homero Senna, em 1944:

Consta que você, como Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, é grande leitor de dicionários...
― Consta e é verdade. Dicionário, para mim, nunca foi apenas obra de consulta. Costumo ler e estudar dicionários. Como escritor, sou obrigado a jogar com as palavras. Logo, preciso conhecer seu valor exato...
― Acha isso uma qualidade?
― Não sei... O que sei é que não há talento que resista à ignorância da língua...

SENNA, Homero. República das letras. Entrevista com 20 grandes escritores brasileiros. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996, p. 206-207.

Nenhum comentário:

Postar um comentário