Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 14 de novembro de 2010

Mário Faustino

POEMA DE AMOR

Quem como tu sem ser percebida
poderia passar entre as legiões dos anjos?

Se com eles cantasses nenhuma nota soaria em falso
e serias um deles em seus coros
a mim inacessíveis

Estás tão perto anjo desambientado!
Mas é tão frágil a tua presença
que é possível que eu fique de repente
outra vez sozinho
na noite desamparado

FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p.202.

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