Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vitória, Espírito Santo, março de 2002

Eu havia acabado de passar no mestrado em Estudos Literários na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo). No dia em que recebi a notícia, comprei na banca em frente à universidade o livro Infância, de Graciliano Ramos, e registrei: Vitória, 27-03-02, após minha assinatura. Muita coisa estava ficando para trás. E muita coisa estava acontecendo naquele gesto simples de comprar o livro Infância e marcá-lo com a palavra Vitória, nome da capital do meu estado, Espírito Santo. Um rio subterrâneo fluindo, deixando-me finalmente na minha terceira margem, de onde se abriu em leque minha existência, com toda a dor e medo e sofrimento que tal abertura pode comportar. Mas também com uma alegria íntima de saber que eu estava conseguindo. Conseguindo o quê? Não sei. Apenas sei que estava conseguindo, como sabia de forma pouco palpável no momento, ao comprar o livro. 

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