Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 26 de abril de 2010

A experiência estética, segundo Luiz Costa Lima

“O próprio da experiência estética [...] é estabelecer uma suspensão de juízo [...] Se poderia dizer, com Coleridge, que o objeto estético exige de mim ‘uma suspensão amorosa da descrença’. Não há experiência estética sem uma suspensão amorosa da descrença. E é através dessa suspensão amorosa que eu não obrigo o meu objeto a ter características de verossimilhança; com o que eu acharia como ele deveria ser. Ou seja, a amorosa suspensão a que me refiro é a condição para que o receptor possa ser tocado por algo contrário ou diverso de suas expectativas. Contudo, ao aceitar o que antes da experiência estética não poderia sequer conceber, o receptor passa a incorporar o que antes não lhe era concebível. Esse novo produto torna-se objeto de crença sua, objeto a partir do qual legisla. [...] O problema consiste na legislação que o receptor-analista passa a fazer. (Este me parece, diga-se entre parênteses, o típico problema das vanguardas: legislar sobre o novo e, a partir dele, decretar o que seria perempto).” (COSTA LIMA, Luiz. Dispersa demanda. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981, p. 212)

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