Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 26 de abril de 2010

a origem do termo vanguarda, segundo Antoine Compagnon

"Esse termo [vanguarda] é de origem militar; no sentido próprio, designa a parte do exército situada à frente do corpo principal, à frente do grosso de tropas. Tornou-se um termo político e, em seguida, estético. Seu emprego político era generalizado, desde a revolução de 1848 [...] e, nessa época, designava tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita, aplicava-se ao mesmo tempo aos progressistas e aos revolucionários. Daí, passou ao vocabulário de crítica da arte. Mas o termo sofreu um deslocamento capital em sua metáfora estética de 1848 a 1870 [...]. Podemos resumir tudo isso dizendo que a arte de vanguarda foi primeiramente a arte a serviço do progresso social e que se tornou a arte esteticamente à frente de seu tempo. Esse deslocamento deve ser relacionado com a [busca da] autonomia para a obra de arte [...]: se a arte de vanguarda merece essa denominação antes de 1848, por seus temas, a arte de depois de 1870 a merecerá por suas formas." (Antoine Compagnon. Os cinco paradoxos da modernidade. Trad. Cleonice P. B. Mourão, Consuelo F. Santiago e Eunice D. Galéry. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996, p. 39)

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