Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Luiz Olavo Fontes

Cegueira

desgarrado rasgo
com meu pistom
a névoa


***

tenho vontade de ver
as coisas como realmente são
mas só consigo ver
através de meus olhos

In: HOLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). 26 poetas hoje. 6. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007, p. 167.

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