Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 31 de julho de 2010

"pessoal intransferível"

Rodando pela blogosfera, encontramos uma diversidade incrível de blogs - há uma proliferação deles. E aí me ocorreu uma questão: por que as pessoas estão escrevendo tanto, não importa o quê? Bem, a tirar por mim, por pura necessidade. Esse blog começou bem "amador", conforme se pode perceber pelos primeiros posts. De certa forma, continua sendo. Quando uma outra amiga disse que tinha procurado em vão um texto que postei, resolvi que estava na hora de introduzir os tais "marcadores". Trabalheira danada ir fazendo um percurso retroativo, rever textos, ver quais seriam os signos que poderiam melhor caracterizá-los. Muita coisa foi revista e descartada nessa operação - numa palavra, eu não era mais a mesma, e esse é o perigo que ronda qualquer revisão - algumas coisas ficaram  inaceitáveis, mas outras permaneceram intocadas, e nelas eu continuo reconhecendo a legitimidade do processo que me moveu (e me move) a escrever. Mas o mais curioso, na história dos marcadores, foi que havia posts para os quais eu não encontrava um signo palpável, evidente por si. Comecei a pensar em algo como "inclassificável", mas marcadores não são uma classificação. Foi aí que me ocorreu a famosa expressão do poeta Torquato Neto, "pessoal intransferível": aqueles posts eram (são) inegociáveis, eram a expressão de experiências muito próprias, muito minhas, e por mais que eu receasse (como continuo receando) me expor, eles eram imprescindíveis. Eram a própria justificativa do blog existir. É com uma entrega para a escrita que tento me colocar nesse espaço. Algumas coisas que escrevi me fizeram muito bem. É o que importa.

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