Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Viviane Mosé

P.S. (pré-escrito): todos os poemas do livro Pensamento chão são sem título. Fui fazendo uma seleção aleatória, privilegiando poemas curtos. Como são vários, não indiquei página, para não tirar o prazer da leitura.


O poema é o delírio do tempo rompido

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Cada um só sabe mesmo as coisas que suporta saber
Não sabe outras

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Acho que o ofício de ser gente me excessiva.
Pessoas são pessoas o tempo todo demais.
Ser gente me excessiva.
Gente me excessiva.
E me falta

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Eu parei de lutar contra o tempo.
Ando exercendo instante.

Acho que ganhei presença

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Medo é um sopro no peito em busca de definição.
Humano é o nome do ser que sabe dizer não

Viviane Mosé. Pensamento chão. Poemas em prosa e verso. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.

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