Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Dora Ferreira da Silva

NOITE EM ITATIAIA

O canto excede o pássaro
e se distende
             sopro
sibilando mais do que o saber sabe.
O silêncio (quando pousa)
ao distraído censura
não ver o muito do nada.

Sol posto.
A sinfonia adentra-se na mata.
No escuro da noite
faço de meu peito um ninho de aconchego
e canto de mim para comigo (sem que o ar se mova)
mais um dia de aprendizado.

Dora Ferreira da Silva. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p.291-292.

Nenhum comentário:

Postar um comentário