Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 16 de janeiro de 2011

página 224

Coincidência: no mestrado, na edição que usei de Sagarana para a dissertação, o conto "São Marcos", tema do meu estudo, iniciava na página nº 224. No doutorado, na coletânea de escritos de Sérgio Buarque de que lanço mão, em dois volumes, organizada por Antônio Arnoni Prado, o ensaio "O lado oposto e outros lados", minha porta de entrada para os escritos de crítica literária de Sérgio Buarque e um dos que mais discuto (sem dúvida o escrito mais polêmico e discutido de Sérgio em sua fase modernista, senão seu escrito mais polêmico), inicia na página nº 224. O mundo dá voltas e voltas, apresenta lados opostos e outros lados, mas às vezes surpreende com estranhas recorrências, na falta de termo melhor. Temos a impressão de que as páginas do livro de nossa vida estão avançando, ou que avançamos na leitura do livro de nossa vida (sem dúvida em virtude da noção de progresso impingida ao mundo ocidental pelo estranho conluio entre cristianismo e capitalismo), mas que livro será esse? Terá sido aberto? Quem o estará lendo?

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