Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 19 de agosto de 2012

pausa para respirar

O cotidiano é o lugar por excelência da vida. Certa recorrência, as tarefas rotineiras e a ausência de brilho são traços do viver miúdo. Um outro traço seria a aleatoriedade da ação, no sentido de que não há urgência, pressa ou mesmo uma ordenação hierárquica que obrigue as coisas a serem dessa e não daquela maneira. E é nessas brechas, na disponibilidade para o imprevisto, que o cotidiano pode surpreender ou ser surpreendido no sentido de que o próprio imprevisto pode irromper. Dá-se a coincidência de uma pausa com uma música, por exemplo, ou uma música que leva a uma pausa, e alguma coisa começa a acontecer: está-se respirando, respirando, respirando... E no movimento da respiração percebe-se, finalmente, o cansaço, cansaço do contínuo sem pausas para respirar.

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