Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 20 de abril de 2010

um trecho de "Grande sertão"

Para os momentos difíceis, Guimarães Rosa: "As razões de não ser. O que foi que eu pensei? Nas terríveis dificuldades; certamente, meiamente. (...) Acho que eu não tinha conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar ― de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. Hoje sei: medo meditado  ― foi isto. Medo de errar. Sempre tive. Medo de errar é que é a minha paciência. Mal. O senhor fia? Pudesse tirar de si esse medo-de-errar, a gente estava salva. O senhor tece? Entenda meu figurado." 

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001, p. 201.

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