Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

um poema de Walt Whitman

Cheio de vida, hoje, compacto, visível,
Eu, com quarenta anos de idade no ano oitenta e três
dos Estados,
A ti, dentro de um século ou de muitos séculos,
A ti, que não nasceste, procuro.
Estás lendo-me. Agora o invisível sou eu,
Agora és tu, compacto visível, quem intui os versos e me procura,
Pensando em como seria feliz se eu pudesse ser teu companheiro.
Sê feliz como se eu estivesse contigo. (Não tenhas muita certeza
de que não estou contigo.)

BORGES, Jorge Luis. “Nota sobre Walt Whitman”. Obras completas I [vários tradutores]. São Paulo: Globo, 1998, p. 271.

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