O título deste post, evidentemente, é apropriação de um dito conhecido de Grande sertão: veredas, esse livro infinito, que promete o infinito. Hoje reencontrei meus alunos, 6º ano, depois de alguns dias fora, e não pude deixar de notar o quanto criança é diferente, seres cuja presença não pesa. Vejo olhares interrogativos em minha direção, vejo muita coisa. Hoje brinquei bastante. Dia desses, numa das turmas, ao trabalhar poesia, coloquei para tocar a música "Passaredo", de Chico Buarque e Francis Hime, e eles perguntaram: pode dançar? Sim, claro! E muitos começaram a dançar, eu entre eles, alguns vieram dançar comigo, e continuaram na música seguinte. Sequer sei se eles ouviram a letra direito: "Muito cuidado, bico calado, que o homem vem aí / O homem vem aí / O homem vem aí." Vem e estraga tudo. O homem, o ser adulto racional lógico hipotético dedutivo, que vem ocupar o lugar da criança. E eu me sinto assim uma grande privilegiada de estar participando desse restinho de infância deles, que eles ainda não sabem (ou talvez muitos até já suspeitem) que está acabando... que o homem vem aí...
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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