Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 7 de junho de 2011

trecho de conversa: diálogo entre duas irmãs

"Por aqui, altos e baixos, às vezes um pique de angústia, mas depois dele geralmente alguma coisa limpa na retina. Parece que o sofrimento intenso também cura, se isso faz algum sentido..." Alguma coisa limpa na retina, após os piques de angústia: é assim mesmo, o percurso do sofrimento, como se ele fosse o percurso necessário a uma retina que pode ver, os tateios e titubeios até encontrar uma porta que se abre, mesmo que seja na noite, no turbilhão dos sonhos, sonhos que podem ser maravilhosos quando permitem justo esses clarões da retina, e aqueles monstros todos, sufocados, domesticados pela vontade (ou pelo medo...) de repente saltam na sua frente, aparecem no sonho com a face desnudada: não são necessariamente monstros, são apenas os seus monstros, os sonhos mais libertadores que se pode ter.

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