Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 5 de julho de 2011

Fabiano Martins

Aquedar e quedar

Ouça a voz,
Ela pulsa em teu peito
à noite.
É a voz que reconhece
em si mesmo;
que te acorda na manhã
pós-pernoite

Não afoito
siga
como os pássaros
vão...
todos cuspindo ar;
como os braços
que a tudo abraçam
abarcam teu peito
a quedar
e quedar

Não há pleito
inerente
ao que te fala
essa voz
Ela diz
condescendente
algo forte
e atroz
É faca de dois gumes
por certo
É tão direto, o que diz; é tão completo...
Descinge a ternura
para além do olhar;
cessa os idos para além
da janela;
quer à queda
quedar e quedar.

do blog do Fabiano Martins

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