Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 3 de julho de 2011

William Carlos Williams

DEIXA DISSO

Um pensamento diferente
mais brando
e mais desesperado
igual ao do
Sargento Fulano
no meio da estrada
em Belleau Wood:
Deixa disso!
Queres viver
eternamente? ―
Isso
é a essência
da poesia.
Contudo nem
sempre:
assume a mesma forma.
O mais das vezes
consiste
em escutar
o rouxinol
ou os tolos.



COME ON!

A different kind of thought
blander
and more desperate
like that of
Sergeant So-and-So
at the road
in Belleau Wood:
Come on!
Do you want to live
forever? ―
That
is the essence
of poetry.
But it does not
always
take the same form.
For the most part
it consists
in listening
to the nightingale
or fools.

FAUSTINO, Mário. Poesia completa e traduzida. Org. Benedito Nunes. São Paulo: Max Limonard, 1985, p.281-282. Mais poemas traduzidos de William Carlos Williams AQUI e AQUI.

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