Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 2 de agosto de 2011

outra tradução para "The Fascination of What's Difficult" (Yeats)

THE FASCINATION OF WHAT'S DIFFICULT

 The fascination of what's difficult

 Has dried the sap out of my veins, and rent
 Spontaneous joy and natural content
 Out of my heart. There's something ails our colt
 That must, as if it had not holy blood
 Nor on Olympus leaped from cloud to cloud,
 Shiver under the lash, strain, sweat and jolt
 As though it dragged road metal. My curse on plays
 That have to be set up in fifty ways,
 On the day's war with every knave and dolt,
 Theatre business, management of men.
 I swear before the dawn comes round again
 I'll find the stable and pull out the bolt.

Conforme já postado aqui, a tradução de Augusto de Campos traz como título "O Prazer do Difícil", formulação que parece padecer de certo preciosismo, quando a palavra fascinação tem outra vibração, em consonância com o espírito do poema e seus enigmas. No entanto, a tradução de Augusto de Campos é muito bonita, pela fluidez que o poema ganhou. O que surpreende, comparando as duas traduções, é que são, praticamente, dois poemas diferentes. Segue tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos:

A FASCINAÇÃO DO QUE É DIFÍCIL

A fascinação do que é difícil, a fascinação
Secou-me as veias e alugou o júbilo
Espontâneo e o prazer do coração.
Nosso potro, algo tem-no incomodado.
Fingindo não possuir sangue sagrado
Ou de nuvem em nuvem não saltar no Olimpo,
Ele tem de tremer com relho, esforço, tranco e suor,
Como a puxar pedra britada. Ergo o clamor
Contra as peças que hão de montar-se de cinquenta jeitos,
A guerra diária aos toleirões e maus sujeitos.
O negócio do teatro, o gerenciar homens.
Juro que antes de nova aurora despontar
Encontrarei o estábulo e o ferrolho hei de puxar.

Poemas de W. B. Yeats. Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Art Editora, 1987, p.66-67.

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