Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 26 de julho de 2011

W. B. Yeats: the fascination of what's difficult

O PRAZER DO DIFÍCIL

O prazer do difícil tem secado
A seiva em minhas veias. A alegria
Espontânea se foi. O fogo esfria
No coração. Algo mantém cerceado
Meu potro, como se o divino passo
Já não lembrasse o Olimpo, a asa, o espaço,
Sob o chicote, trêmulo, prostrado,
E carregasse pedras. Diabos levem
As peças de sucesso que se escrevem
Com cinquenta montagens e cenários,
O mundo de patifes e de otários
E a guerra cotidiana com seu gado,
Afazer de teatro, afã de gente.
Juro que antes que a aurora se apresente
Eu descubro a cancela e abro o cadeado.


THE FASCINATION OF WHAT'S DIFFICULT

 The fascination of what's difficult

 Has dried the sap out of my veins, and rent
 Spontaneous joy and natural content
 Out of my heart. There's something ails our colt
 That must, as if it had not holy blood
 Nor on Olympus leaped from cloud to cloud,
 Shiver under the lash, strain, sweat and jolt
 As though it dragged road metal. My curse on plays
 That have to be set up in fifty ways,
 On the day's war with every knave and dolt,
 Theatre business, management of men.
 I swear before the dawn comes round again
 I'll find the stable and pull out the bolt.

CAMPOS, Augusto de. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006, p.180-181.

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