Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

travessia

Num dos blogs que frequento, a ilha do Zé, encontro hoje um trecho que vem ao encontro de coisas vagas e confusas, pois talvez ser pequeno é uma forma de suavizar a travessia. Entre parênteses: preciso voltar a Guimarães Rosa, cujos escritos tantas vezes me apaziguaram com o itinerário. Trata-se de uma citação de Agustina Bessa-Luis:

"Ninguém nasce para ser grande. Deixai que me lembre daquele poema anónimo, do sec. XIII, e que começa: ‘Toutes choses sont trop petites. Je suis sans limites’. Pequenos no querer e no não querer, pequenos no amar e no odiar, pequenos nas obras, nos pensamentos, no futurar, no conhecer ― e, no entanto, sem limites como portadores de bandeiras, como seres mortais e promessa do outro homem ainda mortal."

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