Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vladimir Maiakóvski

EU

Nas calçadas pisadas
                  de minha alma
       passadas de loucos estalam
calcâneos de frases ásperas
              Onde
                      forcas
                esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
           pescoços de torres
      oblíquas
   soluçando eu avanço por vias que se encruz-
                                                             ilham
à vista
de cruci-
fixos

       polícias

Poesia russa moderna. Trad. Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman. São Paulo: Perspectiva, 2001, p.235.

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