Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 8 de janeiro de 2012

eu sempre soube

Quando li Infância, de Graciliano Ramos, detive-me no primeiro capítulo, as mais remotas lembranças de uma criança. Essa tentativa de lembrar encerra em si a busca pelo próprio despertar para o universo simbólico. O que de mais antigo uma criança guarda em suas lembranças? Como ingressa na representação? Hoje, enquanto me dirigia para o aniversário de minha sobrinha, lembrei-me de leituras recentes acerca da imensa, praticamente inconcebível, vastidão do universo, nas dimensões de tempo e espaço, e mais uma vez tive ciência de minha absoluta insignificância. Mas é como insignificância que existo, não há outro modo. 

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