Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Insolação (Felipe Hirsch e Daniela Thomas, Brasil, 2009)

“Insolação” também poderia se chamar “Inanição”: as personagens vão morrendo aos poucos de inanição em sua busca de amor, pelo amor. Trata-se de um filme de estrutura narrativa tênue, quase inexistente, pontuado pela poesia e pela digressão existencial, como se o sentir fosse mais importante que o contar. Personagens passando por uma dissolução emocional cujo fundo é uma paisagem árida, inóspita, abrasada pelo sol e pela solidão, uma arquitetura que termina por esgarçar o frágil tecido daquelas subjetividades errantes.

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