Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Vladimir Maiakóvski

ALGUM DIA VOCÊ PODERIA? 

Manchei o mapa quotidiano
jogando-lhe a tinta de um frasco 
e mostrei oblíquas num prato 
as maçãs do rosto do oceano. 

Nas escamas de um peixe de estanho 
li lábios novos chamando. 

E você? Poderia 
algum dia 
por seu turno tocar um noturno 
louco na flauta dos esgotos? 

1913

Maiakóvski: poemas. Trad. Boris Shnaiderman, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. 8.ed. São Paulo: Perspectiva, 2011, p.66. Tradução deste poema: Haroldo de Campos.

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