Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

etimologia do termo "estória"

Segundo o dicionário Houaiss, o termo “estória”, um diacronismo, significa o mesmo que “história”; no Brasil, o registro do termo remonta a 1912, na acepção de “narrativa de cunho popular e tradicional; história”. Etimologicamente, informa o dicionário, vem do inglês story (sXIII-XV), “narrativa em prosa ou verso, fictícia ou não, com o objetivo de divertir e/ou instruir o ouvinte ou o leitor, do anglo-francês estorie, do francês antigo estoire e, este, do latim historìa,ae; forma divergente de história adotada pelo conde de Sabugosa com o sentido de narrativa de ficção, segundo informa J. A. Carvalho em seu livro Discurso & Narração, Vitória, 1995, p. 9-11”. José Augusto de Carvalho, no texto citado por Houaiss, afirma: “Em 1912, em Portugal, Antonio Maria José de Melo Silva César e Menezes, conde de Sabugosa, no prefácio de seu livro Dama dos tempos idos, propõe o termo estória para designar a narrativa de ficção. No Brasil, proposto por João Ribeiro e encampado por Gustavo Barroso, em 1942, o termo adquiriu popularidade e prestígio, graças, possivelmente, à publicação, em 1962, do volume de contos Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. O termo estória nasceu, portanto, no século XX, de uma subversão ortográfica calcada no inglês [...]”. (CARVALHO, J. A. Discurso & narração. Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida/UFES, 1995, p.9). Não é o que a datação informada pelo dicionário sugere. O fato é que se trata de um termo pelo qual Guimarães Rosa nutria grande apreço, o que é evidente no seu emprego em suas narrativas e na declaração que abre “Aletria e hermenêutica”, primeiro prefácio de Tutaméia, também intitulada Terceiras estórias: “A estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida com a anedota.” (ROSA, João Guimarães. Tutaméia. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p.7.) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário