Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

um poema de Bob Dylan citado por Deleuze

Sim, sou um ladrão de pensamento não, por favor, um 
ladrão de almas 
eu construí e reconstruí  
sobre o que está à espera  
pois a areia nas praias  
esculpe muitos castelos  
no que foi aberto  
antes de meu tempo  
uma palavra, uma ária, uma história, uma linha 
chaves no vento para que minha mente fuja  
e fornecer a meus pensamentos fechados uma corrente de ar fresco 
não é coisa minha, sentar e meditar  
perdendo e contemplando o tempo  
pensando pensamentos que não foram pensados  
pensando sonhos que não foram sonhados,  
ideias novas ainda não escritas,  
palavras novas que seguiriam a rima... 
e não ligo para as novas regras  
já que elas ainda não foram fabricadas  
e grito o que soa em minha cabeça  
sabendo que sou eu e os de minha espécie  
que faremos essas novas regras,  
e se as pessoas de amanhã 
tiverem realmente necessidade das regras de hoje  
então juntem-se todos, procuradores generais  
o mundo não passa de um tribunal  
sim  
mas conheço os acusados melhor que vocês 
e enquanto vocês se ocupam em julgá-los  
nós nos ocupamos em assobiar  
limpamos a sala de audiência  
varrendo varrendo  
escutando escutando  
piscando os olhos entre nós  
atenção atenção  
sua hora há de chegar

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