Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

nervuras

Há nas folhas secas um farfalhar de vida: suas nervuras são tênues lembranças do vínculo à árvore. As ruas de uma cidade são nervuras vivas, não importa o quanto se teime em fazê-la folha seca. Há cegueira de sobra para mascarar a vida que se move sob andrajos, à mercê da seiva que escorre além das veias. Ainda não empalideci totalmente: consigo olhar a vida que não me faz inocente, e considero, ainda que por um breve momento, um equívoco estar às voltas com os ditos "meus" problemas. 

Jackson Pollock, Number 1, 1950 (AQUI)

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