Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Dante Milano

TOCATA E FUGA

É tudo aquilo que só existe no ar,       
0 que de nós, além de nós, se expande.
É a vertigem para o alto, igual à grande         
Tocata e fuga em ré menor de Bach.
É o delírio de um bêbedo num bar...      
É um não sair do chão por mais que se ande...

Tudo que em mim, somente em mim existe,
Me transporta, me absorve, me suspende,
Me faz sorrir embora eu esteja triste,  
Triste naquele universal sentido         
Que a música interpreta e se compreende
Sem que em palavras seja traduzido.

MILANO, Dante. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, p.212.


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