Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

poema da noite

A rua, como sempre, exalava odor forte de cerveja. Me ative ao gosto. O que mais quero são palavras que traduzam as inefáveis sensações da vida, vida que está onde? No sabor da cerveja não perturbado pelo álcool. Na avidez pela poesia, esquiva às minhas tentativas de aproximação. Torquato ajuda a desandar: “Onde estão as obras? Onde estão as obras? [...] As obras, malandro, são a própria vida (que você sempre esquece de viver).”

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